as velas prenhas de ventos e de ideais
o rasto nas águas frias do navio
uma ardência de fluorescências que desenham riscos de sal sobre as ondas breves
acabaram-se os ancoradouros antigos
os meus navios foram sempre uma miragem alucinada
um sonho por cumprir
demasiados naufrágios
morrem-me os dedos nas mãos vazias
e a pena perde o tino nas palavras
seca na folha amarelecida a tinta azul água
o diário de bordo de um capitão velho
rumo a Oeste de nada
uma carta náutica falsa, sem valor
as coordenadas imperfeitas
longitudes, latitudes, declinações magnéticas por corrigir
um imenso erro a escrita
dou-me conta
um marinheiro não pode ser poeta, ou o contrário
não existe poesia na rudeza do sentir no mar
as velas ainda se içam ao vento e enfunam
prenhas, redondas, alvas
é assim que as imagino
mas todo eu sou um engano…
João marinheiro Fevereiro de 2009
Fotografia de Barcoantigo em 2009